[...]Em vários momentos os meus olhos ficaram mareados, e percebi que muitos jornalistas no cinema também soluçavam e enxugavam as lágrimas. Principalmente em duas cenas: na cena inicial em que Hermione apaga a memória aos seus pais com o famoso Obliviate (muitíssimo comovente e arrepiante!) e na parte final, em que Dobby morre. Essa cena ficou linda e emocionante, principalmente devido às falas finais do elfo antes da morte: “Que lugar lindo é este aqui [Casa das Conchas]. Como é bom estar rodeado de verdadeiros amigos…”[...]
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Crítica a Harry Potter e os Talismãs da Morte: Parte 1
Escrita por Verônica Petrelli; Adaptado para PT-PT por Diogo Domingos
A música “Hedwig’s Theme” começa a tocar no início do filme, mostrando o logotipo da Warner Brothers como todos fãs estão acostumados a ver ao longo de 10 anos. Porém, a música vem acompanhada de uma atmosfera de medo, tensão, característicos sentimentos que são transpassados ao longo do filme inteirinho. Não ao longo de todo o filme, claro, pois os momentos de humor são muito bem dosados em meio ao filme tenso e complexo que é Talismãs da Morte Parte 1. A parte do beijo de Harry e Ginny com a presença indiscreta do enfaixado George Weasley ao fundo e a parte em que Ron comenta com Harry, durante a fuga do amigo, que eles não durariam nada sem a Hermione são exemplos de gargalhadas arrancadas da plateia de maneira perspicaz e bem colocada (essas cenas já foram divulgadas recentemente, nos 40 minutos que foram pirateados na internet).
Decididamente, Talismãs da Morte Parte 1 é uma efusão de emoções do início ao fim. Em vários momentos os meus olhos ficaram mareados, e percebi que muitos jornalistas no cinema também soluçavam e enxugavam as lágrimas. Principalmente em duas cenas: na cena inicial em que Hermione apaga a memória aos seus pais com o famoso Obliviate (muitíssimo comovente e arrepiante!) e na parte final, em que Dobby morre. Essa cena ficou linda e emocionante, principalmente devido às falas finais do elfo antes da morte: “Que lugar lindo é este aqui [Casa das Conchas]. Como é bom estar rodeado de verdadeiros amigos…”
Não é preciso dizer que a actuação do trio principal está perfeita e superou, inclusive, o seu desempenho em Príncipe Misterioso. Dá para ver que as estrelas deram tudo de si para esta grande produção. Daniel na parte dos 7 Potters, Emma durante a tortura na Mansão dos Malfoy e Rupert quando está a enfrentar o medalhão/horcrux, são excertos do filme simplesmente espetaculares, que mostram o quão amadurecidos os actores estão. Destaque também para o trio David O’Hara, Steffan Rhodri e Sophie Thompson, que interpretam os funcionários do Ministério da Magia Albert Runcorn, Reg Cattermole e Mafalda Hopkirk respectivamente. Quando transformados pela poção polissuco, os três actores dão um show de actuação, imitando perfeitamente as “caras e bocas” que Harry, Ron e Hermione fariam. Deve ser realçada também a participação de Ralph Fiennes, que aparece muito mais como Voldemort desta vez.
Outro ponto alto é a banda sonora, que se encaixa perfeitamente com cada momento da longa metragem. Além disso, detalhes como a fisionomia de cansaço de Lucius Malfoy depois de sua estadia em Azkaban e os cabelos de Hermione e barbas de Harry e Ron crescendo ao longo do filme (dando a noção de tempo passando) trazem a riqueza de detalhes do filme.
A fidelidade ao livro com certeza foi um dos pontos fortes. Depois de muitas decepções que tive em Ordem da Fénix e algumas dúvidas com relação a Príncipe Misterioso, pareceu-me que David Yates acertou a mão desta vez. Algumas falas e detalhes são idênticos ao descrito nas obras de J.K. Rowling. E ainda, o guião é muito bem construído, com cenas perfeitamente amarradas umas às outras. Vale destacar a importância dada aos talismãs da morte ao longo do filme, e principalmente a explicação bem feita das mesmas. A animação que corre ao longo da narração feita pela Hermione de “O Conto dos Três Irmãos” é, como todos os veículos de comunicação já comentaram, de deixar a boca aberta. Ver a imagem da Morte literalmente levando cada um dos dois irmãos, numa metáfora surpreendente, quebra com o classicismo dos filmes anteriores.
Quanto aos personagens novos, a apresentação deles no filme é feita de maneira sutil e bem construída. Destaque para um, Mundungus Fletcher malandro e espertalhão, com roupas apelativas, igualzinho ao Mundungus imaginado por qualquer fã que leu os livros. Outro ponto positivo é a quantidade de flashbacks bem encaixados ao longo de Talismãs da Morte Parte 1, fazendo alusão aos outros filmes. Isto faz com que as pessoas não se esqueçam dos pontos cruciais que foram apresentados noutros momentos da saga e, principalmente, traz já a ideia de nostalgia aos fãs, mostrando que a saga de filmes está, infelizmente, chegando ao final (e uma bela retrospectiva é o motivo certo para causar esta sensação nostálgica).
Outro aspecto que chama a atenção é que este filme possui momentos assustadores e decididamente não é para crianças. A morte da professora Charity Burbage (pendurada no tecto, aleijada e pedindo por piedade a Snape), a separação do braço de Ron e a transformação de Bathilda Bagshot em Nagini são partes bem fortes e dão medo até nos adultos mais corajosos. Isso fora a tortura de Hermione, feita por Belatrix Lestrange. Nesta cena, Bellatrix escreve palavras ofensivas no braço de Granger, a estilo do “I must not tell lies” de Harry no quinto filme. Cenas no Ministério da Magia também são impactantes, fazendo referência ao regime nazista ao mostrar panfletos, livros e estátuas anti-muggles.
Contudo, apesar de tantos aspectos positivos, não se pode deixar de ressaltar as negatividades da parte 1 do final épico de Harry Potter. A começar pela morte de Hedwig, que foi pouco explorada e não muito lembrada pelo elenco principal. Menos ainda a morte do Alastor Moody, que só é citada e nem é mostrada, não recebendo nenhum destaque. O Wormtail também tem a sua morte esquecida (ela não acontece no filme). A cena de Hermione dançando com Vítor Krum no casamento foi removida e, aliás, a festa de casamento aparece muito pouco. Além disso, a gravidez de Tonks não chega a ser comentada no filme.
O mais frustrante para um fã é perceber que o passado de Dumbledore é pouquíssimo explorado nesta primeira parte de Talismãs da Morte, deixado totalmente a segundo plano. Não ficamos a saber sobre a existência da irmã do director de Hogwarts (Ariana) e nem sobre a relação de Dumbledore com Grindelwald (e por sinal, Jamie Campbell Bower quase nem aparece). Espero que isso seja mais explorado no próximo filme.
Outras cenas, por sua vez, são totalmente desnecessárias, trazendo um ar de sensualidade que se torna inconveniente e supérfluo, não encaixando muito bem. Ginny pedindo para Harry fechar o vestido dela antes do casamento é um exemplo disso. Pior ainda: o beijo entre Harry e Hermione fantasiado pelo horcrux. Não se pode negar que a reacção do medalhão é muito bem feita e inteiramente fiel ao livro, mas o beijo sensual entre os amigos, nus, como se estivessem tendo relações sexuais, foi extremamente apelativo.
Há certos momentos do filme em que o ritmo se torna demoroso, lento, e incomodando os expectadores. Porém, isso não é nada comparado à quantidade de dúvidas e inquietações que o filme causa: nada é resolvido e ninguém descobre nada. Nada anda, nada parece sair do lugar. No fim da sessão, fiquei com a sensação de: “Como assim? Já acabou o filme e eles não conseguiram solucionar nada? Não sabem da real importância dos Talismãs da Morte? Não têm nem ideia dos outros horcruxes?”. Parece que não acompanhamos o desenrolar dos mistérios no filme e ficamos imersos em questionamentos, algo diferente do que o que ocorre ao longo do livro. Com esta escolha por parte da produção, fiquei com a impressão de que eles estão mais preocupados em cativar fãs novos do que realmente manter a fidelidade com fãs antigos, de longas datas. Apostaram mais em criar expectativas, dúvidas e ansiedade para o próximo filme, com o fim de ganhar ainda mais dinheiro com a bilheteria da parte 2. Algo que pode ser bom para alguns fãs e mau para outros. Mas é tudo uma questão de opinião…
NOTA PARA O FILME: 8,5
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